quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Ternura

TernuraEu te peço perdão por te amar de repente 
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos 
Das horas que passei à sombra dos teus gestos 
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos 
Das noites que vivi acalentado 
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo 
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente 

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo 
Não trai o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas 
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... 
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias 
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta 
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora. 

Vinicius de Moraes

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